As comemorações do 17º Aniversário da Associação Abraço, começaram na Galeria Abraço, com a inauguração da exposição de pintura “Morabeza Na Borratém” de David Levy Lima.
Em 1968, David muda-se para o Murtal e pinta na sua loja-atelier em São Pedro do Estoril. Quem vem pela marginal em direção a Cascais não pode deixar de ver
as telas que, do lado direito se espalham pelo passeio junto a um estabelecimento, logo depois da rotunda que divide São Pedro e a Parede. É a oficina do artista, um espaço recheado de cor e memórias - sob a forma de catálogos de exposições, livros de arte, biografias de pintores, e muitas telas, sobretudo as suas próprias pinturas a óleo, umas de criação própria, outras nascidas por encomenda.
Retratam pedaços de paisagens, as ruas com gente, a enseada da Casa de Santa Maria, as arribas da costa, promontórios, vales e montanhas cabo-verdianas, mas também retratos de músicos, crianças em roda, a baía de Cascais com pequenos barcos, pormenores dos bairros de Lisboa antiga, os elevadores, o Terreiro do Paço visto do rio, cacilheiros…
Em quase todos os quadros há a constância de um azul tranquilo, em vários matizes, completado com pinceladas de cores quentes, traços espessos e finos, que
definem a sua pintura. “Pinto húmido sobre húmido, não deixo secar”, adianta. A desarrumação do espaço onde trabalha, atolado de documentação tão variada, pinceis, telas virgens, frascos, jornais, não intimida os visitantes – muitos estrangeiros - que perguntam pelo preço de um quadro ou questionam o artista sobre o paradeiro de uma tela que lhes ficara na memória. O pintor não sabe o paradeiro de muitas obras, levadas por curiosos e colecionadores que passam por Cascais.
O homem e a natureza formam uma unidade na pintura de David Levy Lima que, em 2010, integrou uma exposição de pintura de artistas de Cabo Verde, patrocinada pelo Ministério da Cultura. O artista plástico é descrito no catálogo como “um pintor de finíssima têmpera que tem trilhado a senda do impressionismo de uma forma magistral e triunfal”. Como se nas suas obras, impressionismo e abstrato funcionassem numa dialética, que advém de uma “técnica apurada e depurada expressividade”, em que uma paisagem humana vista de longe, por exemplo, emite profundidade e perspetiva em infinitos pormenores.
No currículo do pintor não têm conta as exposições individuais e coletivas, em Portugal e no estrangeiro. David Levy Lima conta ainda com diversos prémios e distinções, mas guarda com particular emoção o convite que recebeu da China como artista convidado. Durante três semanas recrearam-lhe o ateliê para que desse largas ao talento… No baú das boas memórias David Levy Lima conta a participação em “The art of tolerance” uma exposição coletiva promovida pelo município de Berlim, em que artistas de todos os países pintaram, a seu modo, o famoso urso símbolo da cidade.
Pintura - reforça o artista sobre a expressão das suas telas - “é emoção, sentimento, instinto. Qualquer quadro começa aqui [na mente].” Olham-se as telas e “as escritas, as grafias” do pintor são outras, ainda que o azul permaneça. No processo criativo, há, por vezes, o crivo das obras feitas por encomenda, que o artista não desdenha: “Com as encomendas há uma disciplina interior para abordar os temas que talvez não goste tanto, mas obrigam-me a investigar, a estudar”.
Apesar de várias obras serem vendidas a quatro dígitos, o artista plástico confessa-se “um teso” e justifica: “compro muito material, tenho pavor de não ter material!” . E, não tendo agente (não gostou das duas experiências em que teve) ele próprio trata de toda a logística da arte, passando hoje uns 25% do tempo a pintar. O método é aparentemente simples: o momento, a emoção de cada momento calibra o traço e a paleta do artista, num percurso que
o próprio diz que faz “da generalidade para a especificidade, de uma forma aberta vou traçando uma rota”. Porque o essencial, reflete, “é a determinação em fazer as coisas; porque há quem possa e não queira; e há quem faça mais do que se espera ou que pode, apenas porque quer”.
United Buddy Bears Show - Tokio 2005
My bear radiates "the Lightness of Being" and would like to share its joie de vivre with all those people looking at him. The central motif is a saxophone player with musicians, surrounded by a landscape of volcanoes, sand dunes and the sea. The hot sun makes the light

Autor: João Lopes Filho
Capa e Ilustrações: David Levy Lima
Editor: Embaixada da República de Cabo Verde, em Portugal
Ano de edição: 1998

Pintor David Lima leva Torre de Belém para sede da ONU
RTP Notícias - 27 Mai, 2005
Um quadro de David Levy Lima, um pintor cabo-verdiano a viver há quase 40 anos em Portugal, representando a Baía do Mindelo, em S. Vicente, com a réplica da Torre de Belém, foi comprado pela ONU para a sua sede em Nova Iorque.
Lisboa acolhe Semana da Cultura de Cabo Verde no Hotel Tivoli
A música e a pintura são outros dos componentes que vão embelezar a Semana da Cultura cabo-verdiana, através de grandes nomes de artistas cabo-verdianos que se encontram na diáspora, segundo informa Rui de Sousa.

David Levy Lima no meu atelier
Por: Daniel Monteiro
David Levy Lima é um pintor de finíssima têmpera que tem trilhado a senda do impressionismo de uma forma magistral e triunfal.
Tendo o homem e a natureza como cerne das suas obras, David Levy imprime uma leveza e subtileza às suas pinceladas e trinchas que tornam os seus quadros de uma linguagem ambígua, ao mesmo tempo que simples, numa mística estética entre o impressionismo e o abstracto.
Isto é, as pinturas de David Levy Lima possuem uma aura dialéctica devido à forma sábia como manipula as cores em manchas largas e finas, sobrepostas e dispersas, em superfícies lisas e cintilantes, plenas de vibrações e reverberações, de nuances estriadas e sombreadas, conferindo aos seus quadros uma atmosfera de certa ridiscência, ígnea e sinestésica, de estranheza metafísica, ao mesmo tempo que nos encanta com um universo exótico e fantástico, quase que virtual, que nos dá a impressão de não ter correspondência com qualquer cenário ou realidade vivida ou sonhada, não obstante estarmos conscientes de que está a referir-se a uma realidade concreta, táctil, palpável.
Ele joga com a ordenação das perspectivas, com a manipulação dos contrastes, com o caldeamento das texturas, com a tecitura das luzes e dos brilhos, de forma a criar um mundo de visualizações e percepções sugestivas e sedosas, e de representatividades conotativas, fluídas e difusas, tais as performances de marca das vanguardas da pintura contemporânea.
Na verdade, as suas obras constituem como que um convite ao nosso olhar à contemplação serena e beatífica, pela sua capacidade de estimular a nossa participação no descobrir de um novo mundo, de uma nova realidade, palpitante e plena de sensações.
Isto porque sentimo-nos espicaçados pelo desafio da interpretação desse mundo de aparências ópticas, voláteis, indefiníveis, intangíveis que ora nos mostra um amontoado amalgamado de cores, de traços, de planos e de brilhos, e ora nos apresenta imagens e cenários resplandecentes, vivos, coloridos e refrescantes, prazenteiros para um idílico passeio ou para um ameno convívio. E aqui estamos a falar das suas representatividades paisagísticas e sócio-culturais, e da sua essência, expressivas e cristalinas.
Circum-navegando, em termos temáticos, por latitudes e longitudes várias, desde paisagens montanhosas e exuberantes, às achadas extensas e secas, aos promontórios e enseadas marítimas de Cabo Verde, ou às paisagens “verdescentes” e policromáticas de Portugal, passando pelo repertório da cultura e do quotidiano cabo-verdiano, em dimensões paisagísticas ou em simples retrato, David Levy vai compondo as suas telas com a sua sensibilidade à flor da pele na captação expressiva e invulgar de gestos e momentos e, quase que diríamos, do próprio tempo num determinado espaço, o que sobrevaloriza a sua performance estética.
Pintor de apurada técnica e talento e de depurada expressividade, David Levy já desenvolveu uma obra monumental e fulcral sobre a realidade e a cultura cabo-verdianas.
Mas também sobre o espaço urbano de Portugal com uma paleta luminosa, de muitos sentidos, pela proposta de inquirição, de descodificação, de reconstrução e reinvenção, próprias de uma pintura ambígua, aparentemente fragmentada por uma geometria mecânica de assimetrias derivativas e rítmicas, às vezes abstracizantes, às vezes figurativas e sígnicas.
Com uma linha excepcional de pintura, Levy revela-se como um mago-mestre do pincel na construção, principalmente, das suas paisagens imaginadas, intuídas ou fotografadas, que se caracterizam pelo seu esplendor e pelas suas floridas, exuberantes e pitorescas orquestrações de cores, heráldicas, de formas plásticas e voláteis que nos concitam a um olhar contemplativo e reflexivo, ávido de outros entendimentos e percepções.
Com uma galeria de pintura esplêndida, maravilhosa e persuasiva, de uma certa fantasia, e plena de emoção e encanto, David Levy Lima sobressai como um pintor de referência na arte contemporânea cabo-verdiana e mesmo portuguesa, sobretudo pela sua originalidade e mestria na sua plástica moderna e impressionista (diríamos), na utilização de certas cores lado a lado para criar uma certa perspectiva óptica, assim como na utilização de pinceladas fortes que deixam transparecer as suas marcas, quando observadas de perto, mas que, vistas de longe, formam um todo compacto e homogéneo, tais as ressonâncias, principalmente de Monet, de Cézanne, de Matisse e, algumas vezes, de Van Gogh; mas também pela sua linguagem imagística de formatividade performativa e espirálica, com uma pitada de op art, em consonância com as novas tendências contemporâneas.
DS, in Cabo Verde e As Artes Plásticas
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